ORQUESTRA DE SOPROS | ‘Entre o Sacro e o Profano’

ORQUESTRA DE SOPROS | ‘Entre o Sacro e o Profano’
Concerto, sábado, dia 9 de novembro de 2019 às 17h00
@ Auditório Vianna da Motta, ESML, Lisboa


Programa

#1. Eli,Eli
      LUÍS CARDOSO

      direcção | Kilian (ERASMUS)

#2. Procissão
      CARLOS CAIRES

      direcção | Alberto Roque

#3. O Soldado de Misarela
      ANNE VITORINO D´ALMEIDA

direcção | Marco Barroqueiro

#4. Réminescences diaboliques
      ALEXANDER KOSMICKI

      direcção | André Santos

#4. Trittico
      VACLAV NELHYBEL

I – Allegro Maestoso
II – Adagio
III – Allegro Marcato

      direcção | Catarina Paixão


Notas de Programa

Este primeiro concerto da temporada 2019-2020, inicia um ciclo de concertos comemorativos do 15º aniversário da Orquestra de Sopros da ESML. Apesar de ser ainda uma jovem orquestra, quando comparada com algumas das suas congéneres internacionais, a Orquestra de Sopros da ESML tem desenvolvido um trabalho intenso na divulgação do repertório original para estas formações e tem proporcionado a criação de novas obras de compositores nacionais intencionais. Algum deste trabalho está reflectido nos seus 3 Cds editados: “Skies” e “Reflections”, ambos gravados para editora holandesa Molenaar e o mais recente, totalmente preenchido com música portuguesa de compositores da ESML, editado pela MpMp.

A celebrar este 15º aniversário, a Orquestra de Sopros da ESML tem a honra e o privilégio de ver reconhecido o seu trabalho, através da sua recente nomeação para integrar a 73ª conferência anual da Midwest Clinic em Chicago, sendo esta a primeira participação portuguesa nesta conferência. Ao longo da temporada terá ainda a prestigiada colaboração de vários maestros nacionais, os quais integram os diversos concertos da mesma.

 

Eli, Eli

Composta em 2010, teve a sua estreia a 11 de Dezembro de 2011, na Casa da Música, Porto, com a Banda Sinfónica Portuguesa, sob a direcção de Alberto Roque. A obra foi posteriormente gravada pela Orquestra de Sopros da ESML no seu 1º Cd – “Skies”. A obra pode ser vista como um percurso sonoro entre um universo “sacro”, ao qual o título da obra dá algum significado, e um universo mais “profano” frequentemente retratado através do uso de linguagens musicais mais ligeiras. A forma como o material temático e a orquestração são explorados, revela-nos um compositor bem ancorado no seu universo musical, proporcionando ao ouvinte uma experiência sonora, que provavelmente induz uma reflexão sobre uma eventual mensagem implícita na obra, permitindo ainda uma certa confrontação estética. Eli, Eli é sem dúvida uma obra de referência deste compositor.

 

Procissão

Caminho, percurso, cadência, ritual, procissão.

O bombo dá o mote e marca a cadência numa pulsação obsessiva que vem de longe, do nada. A procissão vem a seguir e desfila na rua, à nossa frente, hesitante no início, mas ganhando força, progressivamente. A procissão instala-se, gira à nossa volta, metamorfoseando-se, repetindo-se sem se repetir. A pulsação não cede, permanece imperturbável face à passagem dos diferentes elementos que compõem o cortejo. Mas há mais percurso a fazer, e a procissão acaba por seguir o seu caminho, anunciando a sua retirada com um canto melancólico do corne inglês. O som dissipa-se enquanto se afasta de nós, até que já só conseguimos escutar o bombo, imaginando-o naquele local longínquo onde a procissão está a começar para outra gente, lá bem ao fundo da rua.

Peça encomendada pela Banda Filarmónica Nossa Senhoras das Neves (Relva, São Miguel – Açores) por ocasião do seu 150º aniversário, por iniciativa do seu maestro Hélio Soares, que a estreou em 2016.

 

O Soldado de Misarela

Tive o privilégio de conhecer o arqueólogo subaquático Alexandre Monteiro que partilhou comigo uma das experiências mais marcantes da sua profissão que, aos meus ouvidos habituados a outros temas, se entranhou de tal maneira na minha imaginação como se estivesse estado presente. O Alexandre tinha mergulhado há pouco tempo no rio Rabagão, imagine-se, trazendo à superfície moedas em cobre e prata e projéteis em chumbo de espingardas francesas.

Esta peça retrata uma ficção que poderia ter existido; porque não? Aliás, certamente existiu. É a história de um soldado que perdeu a vida na Ponte da Misarela em meados de maio de 1809. Tal como a maioria dos soldados, era jovem, estaria possivelmente apaixonado, com todos os sonhos por concretizar. Algures, uma donzela com longas e bonitas tranças, bordando num lençol o nome do seu amado, ansiaria pelo seu regresso para lhe dar a mão e, longe dos olhares e dos mexericos, abraçá-lo-ia e trocariam promessas de amor. Mas foi sob o comando do Maréchal Soult que ele não resistiu a um dos maiores calvários das tropas francesas nas Invasões Napoleónicas.

Nesse dia fatídico, os soldados exaustos viram-se encurralados numa ponte de largura exígua, a famosa Ponte da Misarela, situada no Gerês, estendida a cerca de 30 metros e dobrada sobre o fecho de um único arco de 12 metros de altura, tão estreita que apenas permitia a passagem em fila indiana. Apanhados inesperadamente pelos tiros do inimigo, as tropas imobilizadas, sem poderem manobrar para se proteger, sentiram-se completamente indefesas e renderam-se ao pânico. Muitos homens tentavam avançar a todo o custo empurrando os soldados da frente, atropelando-se uns aos outros para chegarem às imediações da ponte; desesperados, aterrorizados e à procura de escapar desse cenário, atiravam fora as suas armas e equipamentos; os cavalos já sem força ou desferrados eram abatidos ou atirados pelas ravinas de modo a que se desembaraçasse o caminho. Muitos homens foram atirados ao abismo pelo aperto e pela confusão e aos animais que se recusavam a passar sobre a estreita passagem eram cortados os tendões acima dos boletos ou nos curvilhões. Perdeu-se a vida de um rapaz. Perdeu-se uma história de amor, um destino, uma caminhada igual a tantas outras mas que todos desejamos viver. Perderam-se muitas vidas.

A história deste soldado repete-se infelizmente. Todos os dias. Sejam soldados, sejam civis. Sejam crianças, mulheres ou homens. Como se a nossa vida e os nossos sonhos valessem menos do que os interesses de quem governa.

 

Réminescences diaboliques

Esta obra descreve uma figurativa evocação das forças do mal e de uma consequente visão de aniquilação do mundo. Inicia com a representatividade de uma paisagem desértica e em ruínas, que introduz toda a narrativa. A tensão e a angústia tornam-se cada vez presentes e apesar de alguns impulsos de esperança é o medo que impera.

Na 2ª parte da obra, a escrita rítmica, a linguagem complexa, com algumas características jazzísticas representam a anarquia que rege o mundo depois da simbólica invasão maléfica.

Finalmente, a dualidade expressada pelo medo e pela esperança na primeira parte reafirma-se, e aparentemente tudo é debelado pela força impressa pelo bem que sai vitorioso. No entanto, após o confronto feroz de vontades, a sensação inicial de aridez regressa apenas como uma reminiscência, mas sempre presente.

 

Trittico

Esta obra foi composta em 1963, é dedicada ao Dr. William D. Revelli e à Banda Sinfónica da Universidade de Michigan. A obra foi estreada na Primavera de 1964, pela referida banda, sob a direcção musical de Dr. William Revelli, em Ann Arbor.

Esta obra é composta por três andamentos, dos quais, o primeiro e o terceiro andamento estão, em vários aspectos, relacionados entre si, o carácter da personagem é brilhante seguido por um movimento energético, o tema principal do primeiro andamento reaparece no ponto culminante do terceiro andamento. 

O segundo andamento é uma cena dramática, fortemente contrastante, com recitativos, solos expressivos pontuados pelos metais e pela percussão, com um final extremamente intenso, executado pelos cornetins e trompetes a concluir o andamento. Este carácter dramático é sublinhado pelo forte uso de percussão que é estendido, por um segundo executante nos tímpanos, pelo piano e pela celesta.


Biografias

 

LUÍS CARDOSO

Nasceu em 1974 – Fermentelos. Saxofonista, compositor, professor e maestro.

Como compositor e arranjador as suas obras têm vindo a ganhar a atenção de diferentes áreas dos espectros da música. Ganhou dois prémios de composição: no ano de 2002, por decisão unânime do júri, foi galardoado com o “Grande Prémio Silva Dionísio de Composição para Banda”, promovido pelo INATEL e em 2006, ganhou o Prémio de Composição da Federação de Associações Musicais de Aveiro. Ganhou o 2.º Prémio de composição para banda “Banda Sinfónica Portuguesa (2014). Foi duas vezes finalista do “Harvey G. Phillips Awards for Excellence in Composition” – Tuba Solo Category – International Tuba Euphonium Association, USA (2010 e 2014).
É atualmente Diretor Pedagógico da Escola de Artes da Bairrada (Troviscal, Portugal), e leciona na Universidade de Aveiro, onde prossegue estudos de doutoramento em composição. Como maestro, é diretor artístico da ”Orquestra Filarmónica 12 de Abril” em Travassô.

É convidado regularmente para dar cursos e workshops, ou para falar em seminários sobre diversos domínios, tais como o saxofone, composição e teoria musical. Ultimamente, ele tem sido um compositor e arranjador muito procurado. A maioria das suas obras originais, são publicadas pela editora holandesa Molenaar. Tem um catálogo de pessoal com mais de 650 arranjos e 60 obras originais.

 

CARLOS CAIRES

Compositor, Carlos Caires é doutor em Esthétique, Sciences et Technologies des arts – spécialité musique pela Universidade de Paris VIII e diplomado em composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, instituição na qual é docente actualmente. Carlos Caires é Investigador no CESEM, tendo já pertencido ao CITAR-Universidade Católica Portuguesa/Porto e ao CICM (Centre de recherche Informatique et Création Musicale na Universidade de Paris8).

Foi professor no Conservatório Regional de Setúbal e na Escola de Música do Conservatório Nacional (entre 1988 e 1991) passando a leccionar a partir de 1992 na Escola Superior de Música de Lisboa.
Paralelamente ao curso de composição, Carlos Caires frequentou diversos cursos de verão de direcção coral e de Orquestra, em Portugal e no estrangeiro. Dirigiu com o maestro Paulo Lourenço o coro da JMP, fundando posteriormente (também com Paulo Lourenço), o Coro Ricercare, que dirige até 1998, altura em que parte para Paris.

A sua musica tem sido apresentada em diversos festivais na Europa e na Ásia. Recebeu em 1995 o Prémio Joly Braga Santos com a obra Al Niente, em 1996, o Prémio Claudio Carneyro com a obra Wordpainting, e em 1998, o Prémio ACARTE (em ex-equo com o João Madureira) com a obra Retábulo-Melodrama.

Carlos Caires desenvolve o software de micromontagem sonora IRIN, um projecto iniciado durante o seu doutoramento no CICM (Centre de recherche Informatique et Création Musicale na Universidade de Paris8 ) e, posteriormente, continuado no CITAR – Centro de Investigação em Teoria e Ciência das Artes/Universidade Católica do Porto.

 

ANNE VICTORINO D’ALMEIDA

Anne Victorino d’Almeida nasceu a 15 de Dezembro de 1978 em Poissy (França). Filha mais nova do compositor António Victorino d’Almeida, cedo despertou a sua vontade de estudar música, iniciando aos 4 anos de idade aulas de piano em Viena da Áustria. Aos 7 anos, já em Portugal, iniciou aulas de violino na Fundação Musical dos Amigos das Crianças com Inês Barata, com quem estudou onze anos, concluindo nessa mesma escola o 8º grau sob orientação de Leonor Prado. Em 1997, ingressou no Conservatório Regional de Rueil-Malmaison (França) estudando na classe de Dominique Barbier. Regressou um ano depois a Lisboa, ingressando na Academia Nacional Superior de Orquestra na classe de Agnès Sarosi, concluindo em 2003 a sua licenciatura.
Teve a oportunidade, ao longo do seu percurso musical, de frequentar diversos cursos e classes de aperfeiçoamento com violinistas e pedagogos conceituados, tais como James Dahlgreen, Gerardo Ribeiro, Galina Turtchaninova, Gilles Apap e Maxim Vengerov. Foi igualmente orientada, após a sua licenciatura, por António Anjos. Em 2004, frequentou e concluiu o primeiro ano de direcção de orquestra na Academia Nacional Superior de Orquestra.

Tem dedicado parte da sua carreira musical na composição de bandas sonoras, sendo-lhe atribuído o prémio de melhor proposta musical no concurso “Teatro na Década 97”. Compôs igualmente a música de diversas peças, em cena nomeadamente em teatros tais como o Instituto Português da Juventude, o Teatro da Comuna e o Teatro da Trindade. Em 2006, compôs a banda sonora do documentário “Cartas a uma Ditadura” realizado por Inês de Medeiros, em cena em diversas salas de cinema do país e estrangeiro.

É membro fundador do Quarteto Lopes-Graça, com o qual tem actuado em diversos pontos do país. Muito dedicada ao ensino, lecciona violino desde 2000 no Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa, e é igualmente, desde 2004, professora na Escola de Música do Conservatório Nacional.

 

ALEXANDER KOSMICKI

Nasceu em 1978 no norte da França. Iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Douai, na classe de clarinete, onde recebeu a medalha de ouro por unanimidade. Além de estudar clarinete, estudou composição, orquestração e Direcção. Em 2001, ingressou no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, onde trabalhou com professores de renome internacional, como Bernard De Crepy, Jean-Francois Zygel ou Thierry Escaich. No seguimento desses ricos e diversificados ensinamentos, obteve quatro primeiros prémios em, Contraponto, Harmonia, Fuga e Orquestração. Titular do prémio da cidade de Paris em análise musical, trabalhou direcção de orquestra com Roger BOUTRY, ex-chefe das grandes orquestras da Guarda Republicana. Atualmente, é maestro assistente da Banda das tripulações da frota de Brest. Profundamente ligado à estética francesa, procura expandir o repertório da orquestra de sopros compondo obras originais. É frequentemente convidado a escrever obras pedagógicas, testemunho de um verdadeiro interesse pelo ensino.

 

VACLAV NELHYBEL

Nasceu a 24 de Setembro de 1919 em Polansk, antiga Checoslováquia agora Republica Checa. Estudou composição e direcção de orquestra no Conservatório de Musica de Praga, musicologia na Universidade de Praga e Universidade de Fribourg. Trabalhou como maestro e compositor na Swiss National Radio e em 1950 tornou-se o primeiro director musical da Radio Free Europe Munich.

Em 1957, imigra para os Estados Unidos da América, fugindo da ditadura do seu país, adoptando em 1962 nacionalidade americana. Durante a sua longa carreira nos Estados Unidos, trabalhou como compositor, maestro e palestrante, não só pelos Estados Unidos mas também por todo o Mundo. Em 1996 ocupou o cargo de compositor residente na Universidade de Scranton cargo que ocupou até a data da sua morte, 22 de Março de 1996.
Compositor prolífico que era, Nelhybel, deixou um vasto património de obras, entre elas concertos para vários instrumentos solistas, orquestra sinfónica, banda sinfónica, coro, música de câmara e óperas.

Grande maioria das suas obras foram escritas para músicos profissionais, mas ele adorava escrever para jovens músicos, não só por gostar de fazer música com eles, mas também para os desafiar a executarem as suas obras.
Nelhybel era um artesão da música, aglomerou os impulsos musicais do seu tempo e juntou-os na sua própria expressão, escolhendo discriminadamente sistemas já existentes e integrando-os nos seus próprios métodos e conceitos. A característica mais marcante da sua música é a sua orientação linear – modal. Tinha uma grande preocupação com a autonomia da linha melódica, o movimento, a pulsação, o ritmo e a métrica. Estes elementos são utilizados em muitas das suas obras, criando dissonâncias pela tensão gerada e pela aglomeração de cores sonoras, explodindo a dinâmica com o aumento da densidade da textura. Embora dissonante na sua textura, a sua música gravita sempre para centros tonais, o que torna as suas obras atraentes para os executantes como também para os ouvintes.

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Detalhe de Evento

09/11/2019 17:00
Escola Superior de Música de Lisboa - Auditório Vianna da Motta, ESML, Lisboa

Organizadores

Escola Superior de Música de Lisboa (ESML - IPL)