“(…) só por causa daquele tracinho de união entre o sim e o não, o sim…e o não, meu capitão. Sim e não? É o não que tem culpa do sim, ou o sim que tem culpa do não? Vou pensar nisto.”
Georg Büchner
“Woyzeck é um homem pobre, iletrado e explorado pelos outros, mas sensível. Este homem que tenta desesperadamente ser um homem bom, ouve vozes estranhas, tem visões e sente-se perseguido. Woyzeck luta consigo próprio, luta contra si próprio. Enredado numa teia de impossibilidades, sociais e da sua própria natureza, Woyzeck é um homem acossado, que perde progressivamente a relação com a realidade, acabando por matar a mulher que ama. A obra inspira-se em factos reais, sobretudo no caso de Johann Christian Woyzeck, desempregado, ex-peruqueiro e ex-soldado, que esfaqueia até à morte a sua amante. O homónimo do anti-herói da peça de Georg Büchner, foi decapitado publicamente, perante uma audiência numerosa, depois de um longo processo judicial, que incluiu diversos exames psicológicos, para determinar se poderia, ou não, ser considerado inimputável. É precisamente nesta dúvida, nesta hesitação, que Büchner centra o seu drama: será Woyzeck um louco ou um visionário? A peça, inacabada e descontinua, reconstruída diversas vezes ao longo da história do teatro ocidental, a partir dos quatro manuscritos que chegaram até nós, aprofunda e adensa esta questão fundamental. Teremos nós a capacidade de controlar todas as nossas ações e, portanto, sermos responsáveis por elas, ou seremos conduzidos, e condicionados, a agir por impulsos internos e contextos exteriores como a desigualdade, a exploração e a pobreza? Esta obra, começada a escrever em 1836, não foi concluída, devido à morte prematura de Büchner, mantém-se profundamente atual, quer pelos temas que aborda, quer pela estrutura, descontinua e fragmentária, que antecipa a modernidade. Num momento em que as guerras, a desigualdade, a violência, a fome e a pobreza nos assombram, em que o consumo já não nos serve de consolo, revisitar Büchner e o seu Woyzeck, constitui, também, uma meditação cénica e ética sobre o lugar da cena – um território liminar e de liberdade.”
Maria João Vicente
Tradução João Barrento
Direção do projeto, encenação e conceção plástica Maria João Vicente
Assistência de encenação e direção de cena Sofia Ramos (ramo de produção)
Interpretação Andreia Silva, Catarina Barbosa, Diogo Campos, Filipe Pinto D’Oliveira, Francisco Pires, Mariana do Ó, Meli Torella e Sofia Hora Marques (ramo de atores)
Desenho de luz Miguel Cruz
Operação de luz e som Gonçalo Monteiro e Raquel Caetano (ramo de produção – 1º ano)
Produção e fotografia Ana Miffon (ramo de produção)